Jochanaan: Michael Volle
Herodes: Thomas Moser
Herodias: Michaela Schuster
Narraboth: Joseph Kaiser
Royal Opera House Covent Garden, Londres
Regente: Philippe Jordan
Direção Cênica: David McVicar
Uma excelente gravação dessa que é uma das mais reverenciadas óperas da cena lírica, com a qualidade da Opus Arte, gravada em janeiro/2008 no Covent Garden de Londres.
O excelente diretor David McVicar transporta a ação de Salomé para algum lugar na 2a guerra, onde nazistas ou fascistas celebram a sua decadência. McVicar se inspirou francamente no filme de Pasolini "Saló, ou os 120 dias de sodoma".
Tudo teria sido perfeito, mas dois detalhes comprometaram o resultado final: Nadja Michael, que é uma mezzo-soprano, vem se aventurando no universo mais agudo, seguindo os passos de outras grandes cantoras, como Waltraud Meier, Violetta Urmana. Se lançar assim no papel de Salomé foi bastante arriscado. O personagem é um dos mais ingratos da cena lírica e somente cantoras tarimbadas são capazes de enfrentá-lo. O papel exige tanto no quesito musical, como no cênico. Na primeira parte o papel é uma mistura de inocência com lascividade e na segunda parte ela se transforma numa louca varrida. A cantora tem que saber dosar esses dois aspectos para não desandar o papel. Musicalmente é das mais difíceis interpretações e é justamente nesse aspecto que Nadja Michael deixa a desejar. É visível (ou audível) a sua dificuldade em alcançar algumas tessituras e em alguns momentos chega a desafinar (muito discretamente, obviamente). Não compromete, em hipótese alguma, o resultado final. Mas os perfeccionista sentirão alguma decepção, como eu senti.
O segundo detalhe que decepcionou foi o Herodes "inodoro" de Thomas Moser. O papel é ingrato. Nele, Strauss utilizou pela primeira vez na história da música o chamado "Sprechgesang" ou "canto falado". Um quase declamador/narrador. Isso torna o papel um "tour de force' para cantores e somente os mais experimentados são capazes de enfrentá-lo. Por não ter grandes momentos musicais, o cantor tem que ser um ótimo, ou melhor, um excelente ator, e nesse detalhe Thomas Moser deixou muito a desejar. Seu Herodes é fraco musical e cenicamente. Fica completamente fora de foco em momentos cruciais da trama por sua indiferença. Não há como compará-lo a outros grandes Herodes disponíveis em outras gravações em vídeo, como Horst Hiestermann e o melhor de todos, Kenneth Riegel.
Michael Volle é um Jochanaan correto, e Michaela Schuster rouba a cena nesse papel quase ingrato que é Herodias, tal como a grande e imortal Leonie Rysanek, e é claro, Astrid Varnay, duas lendas do canto que temos gravações em vídeo nesse papel.
A regência de Philippe Jordan (filho do saudoso e grande regente Armin Jordan) é empolgante, bem ao seu estilo grandioso e brilhante o que o confirma como um dos grandes regentes da nova geração. Philippe Jordan é convidado cativo das grandes casas de ópera da Europa, como Staattsoper de Viena, Zürich Oper, Berlin Staattsoper, ROH, Paris Opera e também no MET de New York.